FONTE: JORNAL DO COMERCIO.
http://jc3.uol.com.br/jornal/
Gilvan e Giovanni. Parece nome de dupla sertaneja, mas não é. Refiro-me aqui aos repórteres Gilvan Oliveira e Giovanni Sandes, autores da série de reportagens Carimbo suspeito, que o JC publica de hoje até a próxima quinta-feira. Nos últimos 60 dias, os dois se debruçaram sobre um tema que provoca antipatia em muita gente: cartórios.
Por vezes símbolo de uma burocracia torturante, esta instituição acompanha a vida do cidadão do nascimento até a morte. A própria cidadania, aliás, só é garantida após o registro oficial. Precisa-se de cartório para comprar, vender ou alugar um apartamento, para fazer negócios, para casar, para se separar, para fazer financiamentos e por aí vai.
Tão presentes no cotidiano de pessoas e empresas, os cartórios, uma de nossas muitas heranças portuguesas, arrecadaram cerca de R$ 100 milhões no ano passado, só em Pernambuco. É natural, portanto, que, assim como outras atividades, também os cartórios sejam fiscalizados.
No momento, eles estão sendo alvo de uma investigação minuciosa do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). De início, a corregedoria-geral do TJPE descobriu que alguns deles não vinham repassando ao Tribunal parte dos recursos que recebem por seus serviços. É exatamente este dinheiro que garante a gratuidade de vários documentos fornecidos à baixa renda.
Ao aprofundar a investigação, a corregedoria se deparou com outras irregularidades que, em maior ou menor escala, prejudicam diretamente a população. Surgiu, então, nosso interesse de fazer uma série de reportagens sobre o assunto. As matérias não pretendem afrontar a instituição cartório. Pelo contrário. Mostram que ela é importante porque, entre outras atribuições, garante a veracidade de informações e oficializa contratos. A ponderação de que seria necessário evitar qualquer tipo de generalização ou maniqueísmo veio dos próprios repórteres.
Gilvan é advogado. Giovanni está no quinto período de direito. Ambos, portanto, têm familiaridade com termos jurídicos. No processo de elaboração das reportagens, no entanto, foram orientados a evitar nomenclaturas técnicas para o bem da compreensão. Não foi difícil para eles, bons jornalistas que são.
Difícil e trabalhoso mesmo foi ler dezenas de documentos, entrevistar especialistas, pesquisar sobre o tema, ouvir todos os citados, mostrar didaticamente como pessoas comuns estão sendo lesadas e, claro, aguentar as piadinhas dos colegas de redação. Sim, porque de tão mergulhados no tema, Gilvan e Giovanni se tornaram monocórdicos. Só falavam sobre cartórios. Nauseados pela repetição, os amigos não demoraram a associar os dois àquelas duplas sertanejas de apenas uma música. Maldade. Um tema tão complexo e importante merece mesmo a dedicação mostrada pelos jovens repórteres.
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