Fundo estrangeiro faz 'corrida' por construção
DCI, 28/nov
Em busca de caminhos menos obscuros em meio à crise financeira, os investidores europeus sondam novas oportunidades no setor de construção no Brasil. Há interesse e procura, mas a liquidez apertada limita o perfil dos aplicadores. "Nos últimos dois meses, recebi mais telefonemas de fundos de investimento do que nos últimos dois anos", afirmou o presidente da Associação de Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Nordeste (Adit), Felipe Cavalcante.
De acordo com Cavalcante, esses investidores buscam opções para alocação de recursos neste momento de turbulência nas bolsas. Mas o perfil não é generalizado: são fundos de private equity estrangeiros que estão com recursos em caixa, pois captaram antes da piora do mercado. No entanto, os grandes fundos institucionais não estão buscando o Brasil neste momento, segundo ele, mas aplicando nos Estados Unidos, onde os preços ficaram muito mais atrativos.
Os fundos de hedge se encontram em situação mais complicada. Como operavam extremamente alavancados, foram afetados fortemente pelo enxugamento de liquidez. "Eles estão parados e não têm dinheiro para investir", afirmou um administrador de fortunas que preferiu não se identificar. "Estão demitindo, pois a situação é dramática."
Os estrangeiros que entraram no setor de construção brasileiro há algum tempo mostram-se satisfeitos. "O Brasil vem registrando um desempenho bom no atual ambiente e está relativamente isolado da crise", afirmou Keith Punler, presidente da Kapital Corporation, que atua com incorporação imobiliária no Nordeste e está baseada em Fortaleza (CE). Ele admite que o mês passado foi mais complicado, mas se diz otimista a longo prazo. "Em outubro praticamente não vendemos, ficamos um pouco assustados", disse. "Mas o mercado já está voltando e acredito que conseguiremos bons dividendos."
Também baseada em Fortaleza, a Platinum Overseas diz que por enquanto não sentiu desaceleração no segmento em que atua, de imóveis para a classe média e média-alta. "O Brasil vai ser bem menos afetado pela crise do que a Europa", afirmou Tony Behan, executivo da empresa.
O Nordeste brasileiro viveu um boom imobiliário, nos últimos anos, que trouxe preocupações para as entidades do setor. Felipe Cavalcante, da Adit, se mostra bastante preocupado com movimentos especulativos feitos principalmente por investidores espanhóis em busca de terras baratas. Segundo ele, agora esses especuladores estão deixando o mercado, e o perfil do investidor está mudando. "Queremos levar empresas sérias à região, e agora são os players que estão olhando para o Brasil, não os cowboys."
O diretor de Investimentos do Ministério do Turismo, Hermano Carvalho, afirmou que o País está tentando atrair novos aplicadores para o setor. "Mas queremos os bons investidores, aqueles que respeitem a nossa legislação ambiental." Os executivos participaram de um seminário sobre o setor realizado ontem pela Embaixada Brasileira em Londres. O evento reuniu cerca de 100 pessoas, entre investidores, consultores e advogados.
Procura
Diretor da Abreu Imóveis, empresa sediada em Natal (RN) e que pertence ao grupo Brasil Brokers desde outubro de 2007, Ricardo Abreu afirmou ao DCI que, depois da crise no mercado de segunda residência, iniciada em janeiro deste ano, grupos europeus voltaram a se interessar pelas Regiões Norte e Nordeste do Brasil.
De acordo com Abreu, ingleses, espanhóis e portugueses são os mais interessados e eles preferem projetos de segunda e primeira residência que já estejam em andamento. O diretor informou que a crise não provocou demissões na empresa.
Para Eduardo Abarth, diretor da True Imóveis, localizada em Recife (PE), a previsão é que os investidores estrangeiros intensifiquem os seus investimentos no Nordeste. "O Brasil é a bola da vez, não apenas no setor imobiliário. Infelizmente a violência urbana atrapalha, mas não existe especulação aqui", disse Abarth.
O executivo citou que recentemente espanhóis e portugueses compraram áreas de praia em Alagoas e Pernambuco por R$ 2,5 milhões e R$ 3 milhões, respectivamente. Relatou que está negociando com outro grupo de investidores espanhóis e portugueses uma área na Paraíba por R$ 2,5 milhões. Segundo ele, trata-se de um terreno com um quilômetro de extensão à beira-mar, e 37 hectares. Nos três casos, os terrenos devem ser destinados à construção de resorts. No entanto, o diretor pondera que o movimento estrangeiro vinha ocorrendo antes da crise. Ele espera que a empresa atinja crescimento de ao menos 10%, embora a meta estipulada seja de 15%.
Na avaliação do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão, o mercado imobiliário brasileiro, especialmente no Nordeste, desperta o interesse dos estrangeiros. "Eles estão atentos ao que está acontecendo no Brasil. Acredito que a crise vá retardar um pouco esse movimento [estrangeiro], mas os mercados internacionais vão ficar arrasados por conta da crise e a saída será buscar espaços em países que possam ter melhor performance", disse.
O presidente da Câmara alerta da necessidade de os empresários brasileiros evitarem picaretagem. "Os empresários precisam evitar a deterioração da nossa costa nordestina, esquivando-se, por exemplo, de projetos sem preocupação ambiental."
Mais pessimista, Sílvio Lopes, diretor da Lopes Imóveis, avalia que a procura estrangeira por oportunidades no Nordeste não está relacionada à crise. "Os imóveis na região são mais baratos em relação ao euro e ao dólar. Não percebo que a crise tenha desencadeado uma procura maior. Eles [investidores estrangeiros] também estão em crise lá. Então falta dinheiro para poder investir. Há estrangeiros que estão se desfazendo dos bens que têm aqui."
Fonte. ADEMI-RJ
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